7.1 Teste para um vetor média

7.1.1 Caso univariado, \(p=1\)

Pode-se testar \(H_0: \mu = \mu_0\) vs \(H_1: \mu \ne \mu_0\) supondo \(H_0\) verdadeira (sob \(H_0\)) utilizando a estatística de teste10 \[\begin{equation} t_0 = \dfrac{\bar{x}-\mu_0}{s/\sqrt{n}} \sim t_{n-1} \tag{7.1} \end{equation}\]

i.e., \(t_0\) possui distribuição \(t\) de Student com \(n-1\) graus de liberdade. A média amostral \(\bar{x}\) pode ser calculada pela Eq. (4.10) e o desvio padrão amostral pode ser obtido por \(s = \sqrt{\frac{1}{n-1} \sum_{i=1}^n (x_{i} - \bar{x})^2}\).

É conhecida também a relação \(t_{0}^2 \sim F_{1,n-1}\), onde \(F_{1,n-1}\) indica a distribuição \(F\) de Snedecor com 1 grau de liberdade no numerador e \(n-1\) graus de liberdade no denominador. Assim,

\[\begin{equation} t_0^2 = \left( \dfrac{\bar{x}-\mu_0}{s/\sqrt{n}} \right)^2 = n (\bar{x}-\mu_0) (s^2)^{-1} (\bar{x}-\mu_0)\sim F_{1,n-1} \tag{7.2} \end{equation}\]

Exemplo 7.1 Pode-se realizar o teste t univariado de diversas formas.

(x <- -2:5)         # amostra
## [1] -2 -1  0  1  2  3  4  5
(n <- length(x))    # tamanho da amostra
## [1] 8
(m <- mean(x))      # média
## [1] 1.5
(s <- sd(x))        # desvio padrão
## [1] 2.44949
(t0 <- (m-0)/(s/sqrt(n)))  # estatística do teste para \mu_0 = 0
## [1] 1.732051
2*(1-pt(t0, n-1))   # p-value via distribuição t_{n-1}
## [1] 0.1268704
1-pf(t0^2, 1, n-1)  # p-value via distribuição F_{1,n-1}
## [1] 0.1268704
t.test(x)           # via função t.test
## 
##  One Sample t-test
## 
## data:  x
## t = 1.7321, df = 7, p-value = 0.1269
## alternative hypothesis: true mean is not equal to 0
## 95 percent confidence interval:
##  -0.5478247  3.5478247
## sample estimates:
## mean of x 
##       1.5

Exercício 7.1 Considere o conjunto de dados disponível neste link, onde filhos e altura indicam o número de filhos e a altura de mulheres em um exemplo hipotético. Resolva os itens a seguir utilizando a ferramenta da sua preferência considerando \(\alpha=0.05\).
(a) Faça o teste de hipóteses apropriado para verificar se o número médio de filhos pode ser considerado igual a 2.3, i.e., \(H_0: \mu = 2.3\).
(b) Faça o teste de hipóteses apropriado para verificar se a altura média pode ser considerada igual a 1.62, i.e., \(H_0: \mu = 1.62\).

7.1.2 Caso multivariado, \(p>1\)

(Hotelling 1931) propôs uma generalização para o caso multivariado (\(p>1\)) para testar \(H_0: \boldsymbol{\mu} = \boldsymbol{\mu}_0\) vs \(H_1: \boldsymbol{\mu} \ne \boldsymbol{\mu}_0\) (um grupo) ou ainda \(H_0: \boldsymbol{\mu}_1 = \boldsymbol{\mu}_2\) vs \(H_1: \boldsymbol{\mu}_1 \ne \boldsymbol{\mu}_2\) (dois grupos).

Para o caso de um grupo, sob \(H_0\) \[\begin{equation} T_0^2 = n (\bar{\boldsymbol{x}}-\boldsymbol{\mu}_0)' \boldsymbol{S}^{-1} (\bar{\boldsymbol{x}}-\boldsymbol{\mu}_0) \sim \dfrac{(n-1)p}{n-p}F_{p,n-p} \tag{7.3} \end{equation}\]

Para o caso de dois grupos (de tamanhos \(n_1\) e \(n_2\)), sob \(H_0\) \[\begin{equation} T_0^2 = \dfrac{n_1+n_2-p-1}{(n_1+n_2-2)p} \dfrac{n_1 n_2}{n_1+n_2} (\bar{\boldsymbol{x}}-\bar{\boldsymbol{y}})' \boldsymbol{S}^{-1} (\bar{\boldsymbol{x}}-\bar{\boldsymbol{y}}) \sim F_{p,n_1+n_2-1-p} \tag{7.4} \end{equation}\]

Exemplo 7.2 (R. A. Johnson and Wichern 1998, 229) analisaram a transpiração de 20 mulheres saudáveis. Três componentes foram medidos e os resultados estão disponiveis neste link.
- X1: taxa de suor (sweat)
- X2: teor de sódio (sodium)
- X3: teor de potássio (potassium)

Deseja-se testar \(H_0: \boldsymbol{\mu} = \begin{bmatrix} 4 \\ 50 \\ 10 \end{bmatrix}\) vs \(H_0: \boldsymbol{\mu} \ne \begin{bmatrix} 4 \\ 50 \\ 10 \end{bmatrix}\) utilizando \(\alpha = 0.1\). Sob \(H_0\) pode-se utilizar a Eq. (7.3).

# Fazendo todas a contas
sweat <- read.table('https://filipezabala.com/data/sweat.txt', header = T)
(alpha <- 0.1)          # alpha (nível de significância)
## [1] 0.1
(n <- nrow(sweat))      # n (tamanho da amostra)
## [1] 20
(p <- ncol(sweat))      # p (dimensão)
## [1] 3
(m <- colMeans(sweat))  # vetor de médias (amostrais)
##     sweat    sodium potassium 
##     4.640    45.400     9.965
(S <- cov(sweat))       # matriz de covariâncias (amostrais)
##               sweat   sodium potassium
## sweat      2.879368  10.0100 -1.809053
## sodium    10.010000 199.7884 -5.640000
## potassium -1.809053  -5.6400  3.627658
(inv_S <- solve(S))     # inversa de S
##                 sweat       sodium    potassium
## sweat      0.58615531 -0.022085719  0.257968742
## sodium    -0.02208572  0.006067227 -0.001580929
## potassium  0.25796874 -0.001580929  0.401846765
mu0 <- c(4,50,10)       # vetor sendo testado (sob H0)
(T0 <- n * t(m-mu0) %*% inv_S %*% (m-mu0))  # estatística do teste, Eq. (4.3)
##          [,1]
## [1,] 9.738773
(f <- (n-1)*p/(n-p))    # fator de correção
## [1] 3.352941
(vc <- f*qf(1-alpha, p, n-p))  # valor crítico relacionado a alpha
## [1] 8.172573
T0/f                    # estatística do teste calibrada pelo fator de correção
##          [,1]
## [1,] 2.904546
1 - pf(T0/f, p, n-p)    # p-value (note T0/f)
##            [,1]
## [1,] 0.06492834
curve(f*df(x,p,n-p), 0, 10) # gráfico rápido de f*F(3,17)
abline(v = vc, col = 'red') # corte no valor crítico

curve(df(x,p,n-p), 0, 10) # gráfico rápido de F(3,17)
abline(v = vc/f, col = 'red') # corte no valor crítico

Exemplo 7.3 Pode-se resolver o Exemplo 7.2 utilizando a função ICSNP::HotellingsT2.

# Via ICSNP::HotellingsT2
sweat <- read.table('https://filipezabala.com/data/sweat.txt', header = T)
ICSNP::HotellingsT2(sweat, mu = c(4,50,10))
## 
##  Hotelling's one sample T2-test
## 
## data:  sweat
## T.2 = 2.9045, df1 = 3, df2 = 17, p-value = 0.06493
## alternative hypothesis: true location is not equal to c(4,50,10)
# gráfico da densidade da F(3,17) via ggplot2
library(ggplot2)
ggplot(data.frame(x = 0:10), aes(x, alpha = 0.05)) +
  stat_function(fun = stats::df, args = c(3,17), geom = 'area',
                xlim = c(qf(1-alpha, p, n-p), 10), fill = 'lightgreen') + 
  stat_function(fun = stats::df, args = c(3,17), show.legend = FALSE) + 
  xlab('x') + ylab('Densidade') +
  theme(legend.position = 'none')

Exercício 7.2 Considere novamente as informações do Exercício 7.1.
(a) Faça o teste de hipóteses bivariado para verificar a hipótese \(H_0: \boldsymbol{\mu}` = \begin{bmatrix} 2.3 & 1.62 \end{bmatrix}\).
(b) Quais diferenças você identifica entre este teste e aqueles realizados no Exercício 7.1?

Referências

Hotelling, Harold. 1931. “The Generalization of Student’s Ratio.” The Annals of Mathematical Statistics Vol. 2 (Number 3). https://doi.org/10.1214/aoms/1177732979.
Johnson, Richard A., and Dean W. Wichern. 1998. Applied Multivariate Statistical Analysis. Prentice Hall Upper Saddle River, New Jersey. http://primo-pmtna01.hosted.exlibrisgroup.com/PUC01:PUC01:puc01000172245.

  1. Também conhecida como pivô ou quantidade pivotal, uma função dos dados e parâmetros não observáveis tais que sua distribuição de probabilidades não dependa de parâmetros desconhecidos.↩︎